31 janeiro, 2006

Os outros que vivem por aqui

Além de nós, muitos livros moram aqui em casa. E no meio de edições com origem e procedência conhecidas, dividindo espaço com novidades como “Memórias de Minhas Putas Tristes” e a mais recente aventura do Harry Potter, estão os livros que ninguém sabe dizer exatamente de onde vieram e há quanto tempo estão por aqui. Foi entre esses exemplares que descobri uma antiga edição de “Madame Bovary”, por exemplo - iniciando uma admiração eterna e irremediável por Flaubert. Por causa do mau estado e dessa facilidade de acumular poeira que todos os livros do mundo têm, já comprei algumas brigas com as outras pessoas que vivem nessa casa amarela. Reconheço que posso estar contribuindo para a excelente nutrição de inúmeras gerações de traças gordas e felizes, mas na minha casa ninguém coloca livros no lixo, pois encontrar frases como: “Aqui termina o Livro Que Jamais Foi Escrito...”, vale o trabalho de cada partícula de poeira espanada. Antes viver em uma casa onde os livros, antigos ou não, estão por toda a parte, do que viver em um lugar completamente vazio de autores, histórias e personagens, onde a poeira acumula no cérebro, por falta de um lugar melhor.



Será que ele conheceu o meu sótão?

26 janeiro, 2006

A emocionante e irresistível vida (alheia)

Já ouvi histórias escabrosas, mentirosas e ridículas a respeito desses tipos que não dão conta do próprio nariz, mas saem por aí na nobre tarefa de enfiá-lo na vida dos outros. Dessa vez a vítima foi uma amiga minha, mas a história é longa e nem vale a pena entrar em detalhes. Capaz do fofoqueiro em questão vir pra cima de mim com um processo por violação de direitos autorais...

Agora, se você for uma dessas pessoas que fazem fofoca a respeito de todo mundo simplesmente porque a sua vida é chata e as coisas emocionantes parecem só acontecer para a loirinha da recepção, pare de ler o meu blog agora e vá viver. Enquanto você utiliza a sua capacidade criativa inventando histórias idiotas pra contar e, quem sabe assim, despertar um pouco da atenção que jamais conseguiria por mérito próprio, o mundo lá fora continua girando. E você tá ficando pra trás, claro: A mediocridade nunca sai do lugar.

23 janeiro, 2006


De volta

Ele voltou e me encontrou em casa lendo o jornal. Com um sorriso enorme iluminando os olhinhos azuis de tempestade, ele estendeu os bracinhos pra mim e tudo ficou tão lindo naquele fim de tarde cinza, que até esqueci o gesso, a chuva, o “nem sempre é so easy” e agora estou aqui, saboreando essa felicidade meio besta de quem é feliz apenas porque sabe que é. E só quem sente sabe o quanto é bom.

Poxa... Demorei tanto assim, é?

22 janeiro, 2006

Let Me Go

Ela ouviu todas as frases de consolo pseudofilosófico, leu trechos odiosos de livros de auto-ajuda, perdeu a fé em si mesma e a recuperou muitas vezes, seja depois de uma faxina compulsiva ou da 15º execução de “perhaps, perhaps, perhaps”, no repeat. Ela fugiu da certeza de que “foi melhor assim” e mergulhou de cabeça na crença absoluta de que o tempo cura tudo. Ela abriu a janela do quarto e puxou com força as cortinas que de tão brancas e finas, parecem nem existir, para deixar a lua e o perfume espantoso do manjericão assombrar o quarto, enquanto repetia baixinho que aquilo tinha que passar.
Nessas noites, muitas vezes ela perdeu o sono e de tanto virar na cama, passou a amaldiçoar o tempo, o “move on”, todas as palavras, todas as letras e a ausência. Amaldiçoou todas as pessoas que insistiam em acompanhar a sua vida como se fosse uma novela, amaldiçoou a si mesma pelas tentativas de transformar a dor em best seller de banca de revista e amaldiçoou o maldito contra-senso que espiava de dentro de um livro esquecido do Gabbo.

Um dia, por causa de um sol lindo e de uma frase ao acaso, ela descobriu que um sorriso, uma blusa leve e os bichinhos da Pet Shop combinavam bem mais com o seu tom de pele e resolveu que a tristeza não merecia mais nenhuma consideração de sua parte. E foi assim que o tempo cumpriu a parte dele no acordo.

E tudo fez sentido.


Lálálá...

18 janeiro, 2006

Top 5 - Presentes

Um tubarão
No meu aniversário de três anos, eu pedi um tubarão de presente. Filhotinho, claro, pra brincar comigo na hora do banho. Não ganhei o tubarão e nem uma justificativa plausível pra compensar a frustração. Prato cheio para um psicólogo, eu sei...

Boneco do Fofão
Bem, o boneco em questão, não serviu pra muita coisa, exceto dar sustos terríveis na minha irmã. Por causa disso, o Fofão e o seu rostinho... ahn... meigo foram banidos do nosso quarto e ganharam moradia perpétua dentro do guarda-roupa da minha mãe. Fechado à chave, pra garantir.

Disco do Bozo
Pedi essa obra prima da fonografia por um motivo bem claro: Na minha rua, nenhuma criança ia com a cara do Bozo, sendo assim, ninguém compraria o disco dele e ele ficaria triste e... Palhaços tristes são equivalentes aos Gremlins na escala de coisas assustadoras para menininhas de quatro anos...

Um azulejo quebrado
Amigo-secreto no jardim de infância (vem daqui o meu trauma com essa brincadeira). Os presentes deveriam ser confeccionados por nós mesmos, usando sucata. Presenteei uma coleguinha com um porta-trecos lindão, cheio de lantejoulas e ganhei, de uma outra coleguinha, um azulejo quebrado escrito “Dani, você é muito legal”. Eu guardei, claro. Afinal, ela tinha escrito no azulejo que eu era muito legal!

Maquininha de fazer sorvete, maquininha de fazer chocolate, maquininha de fazer tricô, etc...
Enganação da braba. Nada funcionava tão bem como na propaganda. Na verdade, nada funcionava de nenhum jeito.

09 janeiro, 2006

Como é ter o pé engessado no verão...

Em primeiro lugar, dói.
Você até que tenta, mas não há atividade que faça você esquecer que... Dói! Dói! Dói! &*¨%£¢&!!!!!!

Em segundo lugar, coça.
E coça. E coça. Aí vale tudo: régua, lápis, caneta, serra elétrica, maçarico...

Em terceiro lugar, sua.
Quero um gesso térmico! Quero enfiar gelo dentro dessa bota gigante que transformou o meu pezinho número 34 no pé direito do King Kong!

Em quarto lugar, o deslocamento é lento. Muito lento.
Eu virei uma tartaruga sem casco. Porque o banheiro é tão longe do meu quarto, meu deus?

Em quinto lugar, pela primeira vez em 20 anos, preciso da ajuda da minha mãe pra tomar banho.
Colocar um saco no gesso, pra não molhar. Deixar o pé em cima de um banquinho tomando cuidado para não escorregar e levar tudo para o chão enquanto tenta alcançar a esponja. Movimentar apenas o que for absolutamente necessário, arriscando levar outro tombo ao tirar o condicionador do cabelo. E ainda tenho que ouvir a minha mãe dizendo que eu não preciso usar tanto shampoo...

05 janeiro, 2006

Canse

Olhar pra você é perceber que é possível dizer “sim” e fazer a vida valer a pena. Você é o retrato vivo, colorido e lindo das perspectivas que eles abandonaram em nome de uma vida dedicada à busca de segurança, conveniência, unicórnios e outras dessas coisas que não existem.
Pra eles liberdade é poder, em pensamento, mandar o chefe se foder, de vez em quando. E aí vem você, transbordando intensidade, sorrisos e outras coisas loucas, para mostrar que a liberdade pode ter outro sentido, sim. Você é o empurrão, o gatilho, o “sou eu que tô falando agora”. Você personifica o Desconhecido que mora no escuro, dentro do armário, embaixo da cama, é a prova de que não há razão nenhuma pra ter medo do que não se pode ver. E foi assim que você acabou de vez com a paz genérica e a liberdade mentirosa em que eles viviam. Você esfregou na cara deles que a liberdade conquistada sem o desassossego é uma ilusão tosca. É o mar barrento das praias do Rio Grande do Sul, são os traficantes que governam o Rio de Janeiro. É uma macula, é tudo aquilo que destrói o que poderia ser perfeito.
Seja simples, mas não seja banal. Não eternize verdades com as quais não concorda. Canse do mesmo e de tudo aquilo que insiste em dizer que certas coisas são arriscadas demais. Seja livre, mas não tenha medo de amar mais do que odiar. Crie, aposte, pague pra ver e jure em nome de Deus, ou com a mão sobre qualquer coisa que considere sagrada, que você jamais se tornará um deles.

"Life is crazy. Always, baby..."

“Futebol sem bola/Piupiu sem Frajola/Sou eu, assim, sem você...”

Eu não fui a única a engasgar assistindo a propaganda bonitinha de Natal do supermercado!

David Coimbra, editor de esportes da Zero Hora, na crônica do dia 23/11/05:

“Pois eu ali, vendo aquele comercial de supermercado, a menininha triste de saudade dos pais, suspirando pela casa vazia, e a música pueril e melancólica dizendo que eu sem você é como Piupiu sem Frajola e bibibi, e me deu um nó na garganta. Ah, não! Não acredito que me emocionei com um maldito comercial de TV!!! Mas foi, custo a admitir.”

Pra começar o ano com o pé direito (enfiado na jaca...)

O que fazer com o IPod enquanto o meu computador não tem placa USB?

O que fazer com a BRTurbo, que insiste em ligar pra minha casa dizendo que já estão chegando pra instalar o modem da ADSL, mas nunca chegam?

O que fazer com a saudade daquele loirinho que eu amo tanto?

O que fazer com o meu pé direito, fissurado, engessado e enfiado na jaca de vez?