Os outros que vivem por aqui
Além de nós, muitos livros moram aqui em casa. E no meio de edições com origem e procedência conhecidas, dividindo espaço com novidades como “Memórias de Minhas Putas Tristes” e a mais recente aventura do Harry Potter, estão os livros que ninguém sabe dizer exatamente de onde vieram e há quanto tempo estão por aqui. Foi entre esses exemplares que descobri uma antiga edição de “Madame Bovary”, por exemplo - iniciando uma admiração eterna e irremediável por Flaubert. Por causa do mau estado e dessa facilidade de acumular poeira que todos os livros do mundo têm, já comprei algumas brigas com as outras pessoas que vivem nessa casa amarela. Reconheço que posso estar contribuindo para a excelente nutrição de inúmeras gerações de traças gordas e felizes, mas na minha casa ninguém coloca livros no lixo, pois encontrar frases como: “Aqui termina o Livro Que Jamais Foi Escrito...”, vale o trabalho de cada partícula de poeira espanada. Antes viver em uma casa onde os livros, antigos ou não, estão por toda a parte, do que viver em um lugar completamente vazio de autores, histórias e personagens, onde a poeira acumula no cérebro, por falta de um lugar melhor.
Será que ele conheceu o meu sótão?