22 janeiro, 2006

Let Me Go

Ela ouviu todas as frases de consolo pseudofilosófico, leu trechos odiosos de livros de auto-ajuda, perdeu a fé em si mesma e a recuperou muitas vezes, seja depois de uma faxina compulsiva ou da 15º execução de “perhaps, perhaps, perhaps”, no repeat. Ela fugiu da certeza de que “foi melhor assim” e mergulhou de cabeça na crença absoluta de que o tempo cura tudo. Ela abriu a janela do quarto e puxou com força as cortinas que de tão brancas e finas, parecem nem existir, para deixar a lua e o perfume espantoso do manjericão assombrar o quarto, enquanto repetia baixinho que aquilo tinha que passar.
Nessas noites, muitas vezes ela perdeu o sono e de tanto virar na cama, passou a amaldiçoar o tempo, o “move on”, todas as palavras, todas as letras e a ausência. Amaldiçoou todas as pessoas que insistiam em acompanhar a sua vida como se fosse uma novela, amaldiçoou a si mesma pelas tentativas de transformar a dor em best seller de banca de revista e amaldiçoou o maldito contra-senso que espiava de dentro de um livro esquecido do Gabbo.

Um dia, por causa de um sol lindo e de uma frase ao acaso, ela descobriu que um sorriso, uma blusa leve e os bichinhos da Pet Shop combinavam bem mais com o seu tom de pele e resolveu que a tristeza não merecia mais nenhuma consideração de sua parte. E foi assim que o tempo cumpriu a parte dele no acordo.

E tudo fez sentido.


Lálálá...