23 julho, 2007

Escatológica

Uma vez, no trabalho, uma colega virou pra mim e disse:
- Ai! Olha essa espinha aqui no meu queixo!
Polida, mas nem um pouco interessada, fui conferir.
- É, tá grande...
- Dani! Tá imensa! Espreme pra mim?
Um. Dois. Três segundos de incredulidade.
- Tá louca, bem? Não espremo nem as minhas, vou sair cutucando inflamações alheias? Se quiser, te empresto um espelho, mas vai pro banheiro, please.
Pois, é.
Daí, dia desses, a mãe me contou que foi comer uma pizza com algumas colegas de trabalho e que uma delas ficou catando as caspas do marido à mesa, sem a mínima noção de que, teoricamente, suas escatologias deveriam se manifestar longe, longe, LONGE de qualquer outro ser vivo.
Nojinho, é? Que isso sirva pra vc que coça o saco, pra vc que faz xixi na rua, pra vc que acha que pode tirar caquinhas à vontade enquanto estiver parado no sinal, porque o carro lhe dá o poder da invisibilidade, pra vc que desatola a calcinha onde estiver, pra vc que cospe coisas gosmentas ou não no chão (jogadores de futebol, oi?), pra vc que fuma sem se incomodar com quem está por perto (porque fumar fede e muito, caramba!), etc, etc, etc.

Sério, parece que tem gente que vive com o "eeeca" em mode off.

20 julho, 2007

Eu ganhei uma bolsa (não, não foi da Kipling)

E a burocracia tá me deixando doida, cambada.
São tantos formulários, declarações e xerox de tudo quanto é coisa que a vontade é de chegar lá e dizer "Tá, deixa, esquece, abstrai essa porra toda que eu não quero mais. Beijonemmeliga". Mas daí eu penso, poxa vida, é uma bolsa integral, caramba. Numa faculdade muito foda e eu tenho que, pelo menos, tentar. Se eles devolverem aqueles montes e montes de papéis embrulhados num sinto muito, azar deles, perderam uma ótima aluna, que merecia muito estar ali e depois de um mimimi básico, eu toco a bola pra frente e tento de novo.
Sei que não é pra ser fácil mesmo, sei que tá certo comprovar tudo o que tiver que comprovar, mas eu tenho uma canseira tão grande de papéis que vou te contar... Não é à toa que fiz uma limpa na gaveta onde guardava essas coisas que até minha carteira profissional foi fora (sem querer, claro!).
Saudade do tempo em que tudo era tão mais simples que eu só tinha uma gaveta de calcinhas e outra de balas.

18 julho, 2007

"we can be heroes / just for one day (...)"

Assim que vi a maca do vô saindo da UTI pro quarto, a garganta apertou como nunca apertou em todos esses 25 dias de UTI. Sim, ele estava mais fraquinho, mais magrinho, com mais bagagem, mas estava ali, vivo e contrariando muitos prognósticos desfavoráveis de médicos que conheciam o paciente, mas desconheciam o homem. Era o meu vô-highlander mostrando pro mundo que ele está aqui por mérito, por vencer lutas que nem pessoas com muitos anos a menos vencem.
O vô saiu da UTI quase no final do horário das visitas, quando as famílias ficam no corredor esperando o laudo médico.
O vô saiu da UTI e, com isso, fez nascer esperança no coração de cada um que estava ali, em vigília. O corredor em que eu tanto andei, no qual presenciei tanta dor, tantas lágrimas, por uns minutos, se encheu de sorrisos.

E foi lindo.

13 julho, 2007

Você faz a sua parte?

Olha, nem ia falar sobre isso, sabe? Simplesmente porque é o tipo de assunto que me enche a cabeça de uma forma que não consigo ser racional. E pra escrever bem sobre ele, o mínimo de racionalidade é necessário. O problema é que estava aqui, olhando uns foodblogs e o assunto voltou à minha cabeça e, de novo, o sangue ferveu.

Ao início de tudo, Daniela.
Há uns dias atrás, a casa vizinha à minha foi arrombada. Aproveitaram que a dona não estava e roubaram (sei que o certo é furtaram) uma televisão, o dvd e o rádio. Ela chegou em casa, começou a gritar e alguém atinou chamar a polícia. Uns 15 minutos depois, a viatura chegou. Fizeram o boletim de ocorrência e todas as formalidades necessárias. Bastou? Não, foi a deixa pra vizinha começar o protesto. Disse que a polícia não está fazendo a parte dela, que se eles não estivessem tomando café em vez de ir atrás dos bandidos isso não aconteceria, que os policiais passam o dia inteiro sentados em vez de tomarem providências... Só parou quando o policial ameaçou prendê-la por desacato à autoridade.
Não tiro o direito dela de reclamar de um serviço público que realmente tem deficiências. Sem generalizar e sem esquecer que maus profissionais independem da profissão que exercem, existem policiais que não estão qualificados pra proteger a população. O único problema que vejo no protesto da vizinha é uma coisa muito simples e que ela mesma usou como argumento no início da discussão: O tal de "fazer a sua parte".
Muito fácil reclamar quando sua casa é arrombada, mas quando vc teve o poder de decidir seu voto optou por um candidato que privilegiasse a segurança? Vai nas assembléias do Orçamento Participativo pra tentar conseguir uma guarita policial pro bairro? Educa seus filhos pra se tornarem pessoas conscientes e cidadãos de verdade? Você faz a sua parte?
No seu caso, não faço idéia. No caso da vizinha, afirmo que conheço cada uma das respostas e nenhuma delas é positiva.
Abrir a boca pra reclamar é muito mais fácil do que partir para a ação e tentar mudar as coisas da forma que nos cabe.

11 julho, 2007

Notícias do vô

Não, a coisa não está sendo fácil.
As notícias boas e más se sucedem e o meu vô está sendo um guerreiro, no verdadeiro sentido da palavra. Não é à toa que ele recebeu o apelido de Highlander do pessoal da UTI do HPS que, a propósito, são muito queridos com ele e com a gente também. No mais, procuramos levar da melhor forma essa rotina de idas ao hospital, médicos e exames. Evitamos o desgaste preservando o bom humor e não deixando a desesperança se instalar porque sabemos que a cada visita o vô enxerga a gente por dentro e pode sentir qualquer energia ruim que possa vir de nós. Sendo assim, mantemos o otimismo e a alegria por ele estar lutando pra voltar pra casa e vamos vivendo os nossos dias da forma mais normal possível, como se ele estivesse por aqui.

E tem receita nova no Especiarias, pra adoçar a nossa vida : )

04 julho, 2007

Como eu saí do consultório com uma requisição de eletrocardiograma e outras trivialidades

Entro no consultório e me deparo com o médico e... com o seu irmão mais novo que estuda medicina e está lá pra matar tempo observar as consultas do irmão.
Certo, já começo me sentindo um objeto de estudo. Nada bom, nada bom.
Daí, o médico faz algumas perguntas de praxe e pega o estetoscópio. Comento que a enfermeira do hospital onde eu fui doar sangue pro meu vô disse que eu estava com os batimentos acelarados e que o meu namorado tinha verificado que eles também ficavam assim em repouso.

- É que tu é nervosa... - disse o médico, brilhantemente.

Tá. Deixa eu entender: Eu vou em uma consulta pra controle de uma doença muito da filha da puta e que eu desprezei por mais de 5 anos, chego correndo e atrasada, meu avô na UTI e ele quer que eu tenha os batimentos de um lama? É óbvio que eu ando nervosa. Ando uma pilha, na verdade!
Coitado do irmão mais novo. Assistindo Plantão Médico ou jogando truco no DCE aprenderia mais.

Pois bem, meu sobrinho tá lindo com seu corte de cabelo à la papa capim feito pela hair stylist aqui da rua. É como o pai de uma amiga disse: Na hora de cortar, a minha irmã deve ter dito "Corta bem pouquinho" e a cabeleireira entendeu "Corta que nem louquinho".

E eu, a propósito, tô feliz da vida baixando a terceira temporada de Lost e a primeira temporada de Heroes.

03 julho, 2007

A atual cozinha da casa amarela

A verdade é que a vontade de cozinhar anda meio zerada. Porém, por causa da vó, estou assumindo as panelas mais vezes do que antes, mas da cozinha só sai o trivial. O nosso cardápio atualmente têm sido arroz e feijão (que quase nunca faltam), bife acebolado com shoyu ou outros tipos de carne ou frango, legumes refogados e massas com molhos variados, como tomate, legumes, bolonhesa, shoyu com cebola e azeitona (esse é ótimo). Hoje à noite, a mãe fez um arroz com legumes e eu preparei apenas uma saladinha com brócolis hidropônico, alface, azeitona e rabanetes pra acompanhar. Uma jantinha leve e gostosa.

Ia fazer um empadão, mas a perspectiva de fazer dois recheios (um de carne e outro de palmito pra mim), me desestimulou. Amanhã, como tenho médico, não vou ao hospital ver o vô e como vou estar em casa, talvez faça um bolo de chocolate pro sobrinho e pense com carinho na janta, mas nada que demande muito tempo e nem muito dinheiro, já que com os gastos que estamos tendo, entramos numa fase ainda não declarada de contenção de despesas.

Enquanto o Arno esteve aqui, ninguém estava disposto a ir para a cozinha enquanto esperávamos notícias da cirurgia do vô, por isso acabamos pedindo o pastel de uma lancheria conhecida pela qualidade dos "X" que preparam. O pastel foi uma surpresa boa, já que vem muito bem recheado (ver a minha irmã comer o de chocolate com morango foi um espetáculo de horror), embalagem caprichada, preço honesto e têm várias opções de sabor (ainda que alguns dele tenham feito eu torcer o nariz, por causa dos váaarios ingredientes que os compõem, meio nada a ver uns com os outros). Nos outros dias me inspirei a fazer um strogonoff (sem catchup, que substituí por molho de tomate) e o pudim de leite, que o Arno adora, ainda que a calda tenha ficado completamente meio esmaecida. Saiu um pudim anêmico, mas o pessoal atacou mesmo assim. Por falar em anêmico, descobri na hora de doar sangue pro vô que estou com anemia. Isso gerou uma boa safra de piadinhas, todas elas feitas pelo meu namorado ¬¬. Então nem se aventure, pois você não conseguirá ser original :P.

Fora isso, saudade do vô e feliz porque o namorado logo, logo tá chegando de novo. : )

Éh!













Comprei ontem.
Façam suas apostas, caros.

02 julho, 2007

Os dias no HPS

O número de tragédias que acontecem diariamente e com as quais estamos tendo contato direto agora que temos um familiar internado na UTI do HPS, é impressionante. Conversando com as famílias de alguns pacientes enquanto esperamos o médico dar o laudo diário, conheci algumas histórias de violência, de imprudência no trânsito, de fatalidades em casa.

- A primeira, de um rapaz que saiu à noite e foi espancado de uma forma que não deixa dúvidas de que a verdadeira intenção era matar: Os golpes se concentraram apenas na cabeça, ele teve vários ossos da face fraturados e traumatismo craniano. Quando pensaram que ele havia morrido, os criminosos o abandonaram num terreno baldio.

- Outros dois rapazes e uma moça foram vítimas graves de acidentes de trânsito envolvendo motos. Triste ver alguém naquele estado, sofrendo por ferimentos internos, fraturas múltiplas, fraturas expostas, rostos machucados e inchados. Sei que motoristas imprudentes independem do veículo que conduzem, mas já andei muito com o meu namorado, que dirige moto de forma muito consciente, e testemunhei que muitas vezes são os motoristas de outros veículos que não respeitam o espaço das motos: fecham a frente, ultrapassam colado às motos, sendo que qualquer desestabilidade pode ser fatal para o motoqueiro e, talvez, para outras pessoas também. Às vezes penso que o motivo da violência no trânsito é que estamos confiando demais na habilidade de direção do outro e sendo assim, deixamos de fazer a nossa parte.

- No sábado, uma moça andando de cadeira de rodas, contou que havia sido atingida por 3 disparos na perna e nos braços ao vender um revólver para um sujeito que resolveu testá-lo nela. Não bastasse isso, ainda foi visitá-la no hospital. Alertados por ela, policiais que estavam no hospital conseguiram prendê-lo. Viciada em crack, ela disse que agora que Deus tinha dado uma segunda chance, ela iria tentar mudar de vida.

- Ontem, uma mãe nos contou que o filho foi vítima de um disparo na barriga. Aparentemente, ele estava bem, com alguma dificuldade conseguia conversar com a família e tudo, no entanto, seus pulmões, rins e outros órgãos vitais já não estavam mais funcionando e o médico disse que não tinham mais o que fazer, apenas esperar.

- Outro caso foi o de uma menina, que calculei ter uns 5 anos, no máximo, deitada na maca, saindo do bloco cirúrgico, onde recebeu um transplante de pele. Moradora de uma cidade do interior, foi internada por sofrer queimaduras em 25% do corpo caindo dentro de uma panela de mocotó (um tipo de sopa, que se faz em grandes panelas, aqui no RS).


Sei que muitas vezes lemos coisas como essas espalhadas no jornal enquanto tomamos café da manhã em casa. Por estarmos longe dessa realidade, nos julgamos imunes, mas o problema é que fatalidades não escolhem vítimas. Você pode estar num bar se divertindo e cruzar o olhar com a pessoa errada, você pode sair de casa com a intenção de ir trabalhar e outro motorista mais distraído não percebe o sinal fechado. O resultado disso é a sua família chorando na porta de uma UTI, ou em alguns casos, talvez nem precisem passar por lá.