Influenza
Percebi que é quase impossível não escrever sobre uma coisa que te adubou de alguma forma e, por isso, está sempre ali. Não no sentido de tomar conta, mas de você ter certeza de que aquela é uma parte da sua vida que fez diferença pra você, que te tornou uma pessoa diferente. Foi o que houve: Eu me vi morrer pra alguém. Eu me vi agonizar, ter aquela melhora súbita que sempre acomete o que está nas últimas e, por fim, morrer. Eu deveria ter entendido, mas esse foi o dia em que a minha tão elogiada percepção do outro estava mais ocupada em fechar o primeiro botão da blusa que tinha aberto, encostar a mão no vidro da janela pra saber se o sol estava tão quente assim e tentar remediar o estrago das unhas pintadas de vermelho escuro. Justo eu que nunca pintei as unhas de vermelho escuro sem um bom motivo. Engraçado lembrar que foram aquelas unhas vermelhas que me fizeram chegar ali: Só pra morrer nos olhos de alguém. Em silêncio. Tentando negar.