19 março, 2008

O Tempero da Vida

Poucas pessoas entendem a minha relação com a cozinha. Nem meu namorado, com quem estou há mais de dois anos, e que muitas vezes consegue me entender melhor do que eu mesma, compreende muito bem. Pra ele a comida ocupa o lugar que as outras necessidades primárias como respirar e dormir ocupam. Ou seja, ele come para saciar a fome e termina por aí. Mas pra mim, cozinhar é mágico. Talvez isso explique porque, enquanto eu estava despertíssima às duas da madrugada de um domingo assistindo "O Tempero da Vida", o Arno roncava sem cerimônias na cama.

A história toda se desenrola a partir do ponto de vista de Fanis, menino que foi criado ouvindo os conselhos do avô, que misturavam culinária e filosofia. Para alguém que adora cozinhar, foram muitos os suspiros durante os quase 110 minutos do filme: Desde as especiarias no armazém do avô de Fanis relacionadas ao sistema solar numa improvisada aula de astronomia, passando pelas delícias gregas e turcas preparadas pelas mulheres da família. Muitas risadas, como nas cenas onde uma avó que sofre do mal de Parkinson se livra dos tremores subitamente, mas volta a senti-los quando se agarra ao sacolejante copo da novidade chamada liquidificador, e alguns apertãozinhos na garganta, como quando o pai de Fanis expressa toda a tristeza por ter sido forçado a deixar a terra que amava.

Poucas músicas, poucos filmes tem tanto poder de me comover como os livros e é realmente essa a impressão que tive enquanto assistia "O Tempero da Vida", de ter aberto um livro e me entregado a uma história incrível.

Cada um tem seus parâmetros e padrões para medir o que gosta ou não, alguns usam estrelinhas, comparações, outros notas. Eu, prefiro ficar no mais simples, digo que gosto de um livro quando queria tê-lo escrito, de uma música quando queria tê-la composto. Certamente, se eu rodasse um filme, adoraria que tivesse, ao menos, a atmosfera mágica da história de Fanis.

Aprovadíssimo.