02 julho, 2007

Os dias no HPS

O número de tragédias que acontecem diariamente e com as quais estamos tendo contato direto agora que temos um familiar internado na UTI do HPS, é impressionante. Conversando com as famílias de alguns pacientes enquanto esperamos o médico dar o laudo diário, conheci algumas histórias de violência, de imprudência no trânsito, de fatalidades em casa.

- A primeira, de um rapaz que saiu à noite e foi espancado de uma forma que não deixa dúvidas de que a verdadeira intenção era matar: Os golpes se concentraram apenas na cabeça, ele teve vários ossos da face fraturados e traumatismo craniano. Quando pensaram que ele havia morrido, os criminosos o abandonaram num terreno baldio.

- Outros dois rapazes e uma moça foram vítimas graves de acidentes de trânsito envolvendo motos. Triste ver alguém naquele estado, sofrendo por ferimentos internos, fraturas múltiplas, fraturas expostas, rostos machucados e inchados. Sei que motoristas imprudentes independem do veículo que conduzem, mas já andei muito com o meu namorado, que dirige moto de forma muito consciente, e testemunhei que muitas vezes são os motoristas de outros veículos que não respeitam o espaço das motos: fecham a frente, ultrapassam colado às motos, sendo que qualquer desestabilidade pode ser fatal para o motoqueiro e, talvez, para outras pessoas também. Às vezes penso que o motivo da violência no trânsito é que estamos confiando demais na habilidade de direção do outro e sendo assim, deixamos de fazer a nossa parte.

- No sábado, uma moça andando de cadeira de rodas, contou que havia sido atingida por 3 disparos na perna e nos braços ao vender um revólver para um sujeito que resolveu testá-lo nela. Não bastasse isso, ainda foi visitá-la no hospital. Alertados por ela, policiais que estavam no hospital conseguiram prendê-lo. Viciada em crack, ela disse que agora que Deus tinha dado uma segunda chance, ela iria tentar mudar de vida.

- Ontem, uma mãe nos contou que o filho foi vítima de um disparo na barriga. Aparentemente, ele estava bem, com alguma dificuldade conseguia conversar com a família e tudo, no entanto, seus pulmões, rins e outros órgãos vitais já não estavam mais funcionando e o médico disse que não tinham mais o que fazer, apenas esperar.

- Outro caso foi o de uma menina, que calculei ter uns 5 anos, no máximo, deitada na maca, saindo do bloco cirúrgico, onde recebeu um transplante de pele. Moradora de uma cidade do interior, foi internada por sofrer queimaduras em 25% do corpo caindo dentro de uma panela de mocotó (um tipo de sopa, que se faz em grandes panelas, aqui no RS).


Sei que muitas vezes lemos coisas como essas espalhadas no jornal enquanto tomamos café da manhã em casa. Por estarmos longe dessa realidade, nos julgamos imunes, mas o problema é que fatalidades não escolhem vítimas. Você pode estar num bar se divertindo e cruzar o olhar com a pessoa errada, você pode sair de casa com a intenção de ir trabalhar e outro motorista mais distraído não percebe o sinal fechado. O resultado disso é a sua família chorando na porta de uma UTI, ou em alguns casos, talvez nem precisem passar por lá.