Voldemorts Literários
Estava lendo o fórum de uma comunidade do Orkut que discutia sobre ler ou não ler Harry Potter. Claro que a questão dá pano pra manga e, entre xingamentos (48%), argumentos toscos (50%) e argumentos coerentes (2%), um comentário sensato chamou a minha atenção. Transcrevo exatamente como está lá:
"Comecei a ler a série Harry Potter aos 8 anos (hoje tenho 13). Após ler o primeiro livro da série, me tornei um fã de carteirinha. Até hoje,quando cada novo volume chega às livrarias, não perco meu tempo. Sempre gostei muito de ler,e isto se acentuou bastante após me interessar pela série. Muitas pessoas alegam que Harry Potter não acrescenta em nada e não aumenta o interesse pelos livros. Eu como prova viva posso dizer que é exatamente o contrário!!!E minha dica não podia ser outra:LEIAM HARRY POTTER!!"
Pronto. Discussão encerrada! Suspendam a vinda da SuperNanny e do Içami Tiba! E não só porque o menino usou como argumento a sua própria experiência de leitor, mas porque estava ali representando todas as crianças que lotam as livrarias pra comprar os livros do Harry Potter. As mesmas crianças que fazem fila aqui em Porto Alegre pra comprar um tênis com rodinha (*Já viram? Eu não. Se tem rodas, tô fora*). Por quê? Oras! Porque ambos são divertidos pra elas! Daí aparecem os pseudo-intelectuais, esses que gostam de usar expressões como "lixo literário", aqueles que cultuam dois ou três livros superestimados por outros pseudo-intelectuais, defendendo teses psicopedagógicas (*adoro prefixos, perceberam?*) sobre um livro que, no final das contas, tem a mesma intenção de todos os outros (ENTRETER!!) e, ainda por cima, trouxe à baila uma geração de leitores com menos de 10 anos que nem se importa em ler um livro de 700 páginas sem figuras quando todo mundo sabe quais são as primeiras perguntas dos alunos quando um professor manda ler um livro pra escola:
- Quantas páginas?
- Tem figuras?
- Qual o tamanho das letras?
E a pergunta secreta, que fica só no pensamento:
- Será que eu encontro facinho um resumo na internet?
Os que dizem que Harry Potter não é "literatura de qualidade" (*rótulos, rótulos... sempre eles*) me fazem lembrar da bruxa da minha professora da terceira série que disse que o fato de eu gostar de ler gibis da turma da Mônica me faria escrever errado, falar que nem o Cebolinha e mais (*sim, ela tinha uma perspectiva negra a meu respeito*): "Argh. Vai ser uma leitora medíocre, com certeza". O tempo passou e os gibis que continuaram se multiplicando lá em casa, se transformaram em livros da Ruth Rocha, Monteiro Lobato, Machado de Assis, Dickens... E acredito numa coisa que a minha professora (*e personal bruxa, devo acrescentar*) ignorava: Não existe história que não valha a pena no mundo dos livros. Um leitor só nasce através do prazer e da curiosidade literária, tanto faz a forma como são despertados.