18 julho, 2006

O ponto final

Hoje eu chorei e chorei muito. Chorei de um jeito que nunca tinha chorado antes. Chorei lágrimas quentes, intermináveis. Aquele choro que despedaça a alma de tanto doer. De tanto chorar, corri para o banheiro achando que ia vomitar. Vomitar de tanto chorar. Nunca imaginei que fosse possível. Olhei de relance para o espelho e vi uma menina de roupão laranja com os olhos vermelhos e a boca muito, muito mais vermelha. Era como se as palavras ácidas que há pouco saíram dali tivessem deixado suas marcas: Queimaram os ouvidos de quem ouviu e, pra não serem esquecidas tão cedo, queimaram os lábios de quem as disse. Foi ali que a menina do roupão laranja percebeu que existe sim a forma certa de se gostar de alguém. E a forma certa dela “ser gostada” era a forma dele. A forma como ela sempre quis “ser gostada” era a forma dele gostar dela. Chorou ainda mais quando lembrou que tudo de bom que a vida tinha dado pra ela naqueles meses tinha a forma bonita dele e o som limpo da risada dele. Não, não existe isso de gostar de alguém e não querer ficar junto. Então ela voltou e ele continuava esperando por ela. E naquele momento, o coração dela se expandiu e toda a paixão do mundo coube ali dentro. Toda a saudade do mundo coube ali dentro. E toda a certeza do mundo desabou sobre ela: Era ele e ponto final. Ponto final. Meu ponto final. E todas as lágrimas que ela chorou por outros secou de vez e virou nuvem que choveu, que virou rio, que levou pra longe qualquer lembrança daqueles que fingiram ser ele pelo tempo que durou. Porque sempre faltou alguma coisa nessas relações de engano. Sempre faltou alguma coisa que a fizesse querer acampar na praia, aprender a andar de bicicleta, aprender a nadar direito e a acertar de jeito o ladrão. Sempre faltou alguma coisa nessas relações que a fizesse admitir que a Hello Kitty é fofa, que o sul é o seu lar, que ela ignora o que há embaixo da cama quando está escuro e que ela tem um medo estranho da sombra de tristeza que existe por trás dos olhos dela. Faltava nessas relações um pouco de verdade, de dor, de aprendizado, de leveza, um pouco de luz. Faltava a certeza de se saber única. Faltava alguma coisa que a fizesse acreditar. Faltava ele. E agora já não falta mais nada.