28 junho, 2007

"Se ele está lutando lá, nós não temos o direito de desistir aqui."

Meu avô começou a trabalhar aos seis anos, em fazendas do interior do município de Alegrete, na campanha rio-grandense. Seu primeiro filho nasceu com uma deficiência física que o impede de realizar muitas das coisas que gostaria. Alguns anos mais tarde, já com dois filhos, meu avô caiu de uma das pontes que construiu e saiu andando, sangue a cântaros, até em casa para tranquilizar a esposa antes de ir para o hospital.

Tudo isso passou pela minha cabeça no último sábado, dia em que ele desmaiou no banheiro de casa e foi levado para o hospital onde diagnosticaram um aneurisma. Lembro que enquanto meu namorado e o namorado da minha prima o socorriam, ele olhou pra mim e disse que queria deitar na cama. Isso certamente o teria matado. Transferido de hospital, devido à gravidade do seu estado, meu avô passou por uma cirurgia muito delicada, onde teria 20% de chances de sair com vida. Meu vôzinho venceu a batalha e hoje se recupera na UTI.

Foram dias de uma angústia enorme, onde cada toque do telefone, de pessoas que queriam saber como ele estava, nos desesperava. Cada visita ao hospital, àquela ala que assusta muita gente, nos dava e tirava a esperança. A UTI é um local dolorido, onde é possível sentir claramente o Medo que impera ali, maior que tudo, dominando tudo. É sempre difícil ver pessoas se agarrando a qualquer fiozinho de vida, lutando por uma coisa que muito poucos dão o valor que ela merece enquanto a tem a salvo.

Nesses dias que estou vivendo, só consigo ser grata por duas coisas: Por ter tido estrutura para lidar com tudo o que aconteceu e está acontecendo e assim poder ajudar minha família da melhor forma. E por poder contar com a pessoa que amo, por ele morar tão longe, mas estar aqui numa das horas mais difíceis da minha vida, por ser a única testemunha das minhas lágrimas, por saber que o meu vô é o meu "pai de verdade" e, por causa disso, nunca, nunca, nunca me deixar abater e perder a esperança.

A razão da minha fé na recuperação do vô é o reconhecimento da história de superação que é a sua vida. Conservando essa fé, me dando todo o suporte que precisei nos momentos mais difíceis, apoiando toda a minha família, entrando na UTI e tranquilizando o vô a respeito da segurança das suas "gurias", está o Arno. O homem que eu tenho o maior orgulho de dizer que é o único que amei, amo, amo muito, amo sempre.


Doações de sangue, de qualquer tipo, para o sr. Dorvalino Catarino Santos Castro, que também foi doador durante grande parte da vida, são necessárias e muito bem-vindas. As doações devem ser feitas no Hospital de Pronto Socorro, de Porto Alegre, das 8h às 18h e aos sábados pela manhã.