02 abril, 2006

Woodstock,

Meus escritores preferidos já não são mais os mesmos e as músicas que não saem da minha cabeça são outras. Conheci pessoas legais nos lugares mais inusitados e descobri que elas estão prontas pra fazer uma ligação por você, te oferecer um sorriso, um copo de água e embarcar nas suas neuroses com a maior naturalidade.

Estive nos lugares mais improváveis pra mim: Todo mundo me reconhecia pelo sotaque e mais cedo ou mais tarde acabavam perguntando se estava frio nessa terra que quase encosta os pés na Antártida, mas tem uma quedinha pelo clima de deserto tunisiano. Conheci seis cidades em 15 horas, estive no céu e no inferno no mesmo dia ("Céu" é literal, "inferno" não) e consegui me sair bem nos dois, porque tudo o que você perde indo parar em um lugar desconhecido, ganha em determinação pra enfrentar a ínfima porcentagem do mundo que espera que você se dê mal e coragem pra trazer pra perto do coração aqueles que realmente importam: Quem tem o poder de te fazer sentir inteiro.

Sei que ainda vale a pena, Woodstock. Ainda que você não seja mais tão amarelinho quanto antes e quase não consiga voar direito. Tem alguém aqui que não esqueceu aquele sorriso de quem vai crescer e se tornar adulto um dia. "Mas não hoje. Pra que a pressa, né?" Sim, eu sei que muita coisa mudou, mas aquela livraria nunca deixou de ser meu sonho de consumo, o livro de chocolate ainda me dá fome e, como sempre, a primeira frase dos meus textos só tem a função de me fazer começar a escrever e é sumariamente apagada quando chego na última linha. Sim, muita coisa mudou, mas o mais importante é que os meus olhos não mudaram pra pior só porque viram mais coisas.

A vida não gosta de te ver sossegada, você disse. E eu digo que se você quiser ser o meu “hopeless case”, eu topo a parada. E por um motivo muito simples: Você nunca deixou de ser meu amigo, Woodstock.