15 fevereiro, 2006

“Família ê, família á, famííília”

A campainha

Nossa casa tem uma campainha e o fato é que ela é tremendamente inútil, já que pra chegar na parede onde ela está instalada é preciso passar por um portão eletrônico e uma poodle adestrada desde filhotinho para saltitar e receber qualquer visitante com honras de chefe de estado. Essa campainha, (além de desnecessária) quando acionada, faz o barulho dessa obra ao lado da sua casa parecer a Nona Sinfonia. Mas ninguém se atreve a desinstalar ou trocá-la por um “blim-blom” mais inofensivo aos tímpanos: É muito engraçado ver o povo pulando de susto sempre que o meu vô vai até lá, disfarçadamente, e “BÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ”.

Frederico, o Peixe (carinhosamente conhecido como Fred, the Bad, Bad Fish)

Na tarde em que meu sobrinho nasceu, Frederico, o Peixe, morreu. Não ficamos desolados porque passamos a torcer o nariz pra ele desde que soubemos que o tal do peixe não permitia que outro par de barbatanas dividisse o aquário com ele a menos que o novo coleguinha virasse almoço. Quando percebeu que o Frederico estava assim... com cara de peixe morto, minha vó resolveu deixá-lo quietinho no aquário até o dia seguinte, para que a minha irmã (e dona do peixe) assinasse o atestado de óbito sem nos acusar de aproveitar que ela estava fora para dar cabo daquele peixe chato e anti-social.

A Enchente

19 horas. Dilúvio repentino depois de um dia lindo de sol. A quantidade de água que caiu em tão pouco tempo surpreendeu a todos e alagou as ruas. E nada da mãe aparecer. Foi o suficiente para a minha irmã começar a imaginar todos os infortúnios possíveis.

- Calma, Amanda. Olha lá na outra esquina. Ela tá chegando...


- Vou levar um guarda-chuva pra mãe... Pela minha mãe eu vou até o fim do mundo!

- Ah, é? Então tá. Eu e o meu pé quebrado vamos ficar aqui assistindo pela janela a tua incrível jornada...

Pegou um guarda-chuva, caminhou uns 10 metros pela rua e parou: Mais do que aquilo só enfiando os pés na água até os tornozelos. Olhou pra trás. Da janela, não resisti e gritei:

- Bah! Mas o fim do mundo é perto, hein?

De longe e no escuro não deu pra perceber claramente o sinal que ela fez. Acredito que tenha me mostrado o dedo médio, mas não tenho certeza...

Mestre de obras aposentado & Arquiteta amadora

Meu vô trabalhou durante vários anos liderando a construção de pontes para o DAER e hoje, aposentado, curte fazer “reformas” na casa como hobby. Difícil o dia em que não há uma porta nova, uma janela diferente ou um revestimento de outra cor sendo colocados. De acordo com a minha vó, precisamos ser gratas por ele ainda não ter conseguido projetar uma ponte pra passar por cima do gramado... O problema é que ele tem duas aliadas nisso tudo: Eu e minha inclinação pseudo-arquitetônica. Olho para uma parede e digo: “Acho que se a gente derrubasse essa parede, a cozinha ficaria mais ensolarada...”. Meu avô vibra: “Hmm... Acho que a tua vó vai gostar”. E no dia seguinte, comandando os mesmos operários da época das pontes, ele coloca a parede no chão, faz uma bancada bonitinha e ilumina a cozinha inteira para a minha vó, que prepara o almoço parecendo desaprovar a ex-parede, mas não consegue esconder um sorrisinho de moça que acabou de ganhar um presente do namorado...

Vó, bisneto, vô e a parede que não existe mais...